Democracia
Bernard Owen, um investigador do Centro de Estudos Comparativos da Universidade de Paris, numa breve entrevista concedida ao Público de 23 de Abril na sequência das eleições francesas, referindo-se ao carácter bipolar da repartição dos votos entre Sarcozy e Royal, diz que "uma democracia para funcionar bem deve ser equilibrada." E que "tem de haver duas tendências, uma para governar, outra para fazer oposição", como sucedeu, na sua opinião, no primeiro round das presidenciais francesas.
Os que passaram à fase seguinte são aqueles que se distinguem bem um do outro, Le Pen à parte, está claro.
Abstraindo-nos do contexto eleitoral francês, que lição podemos retirar das palavras de Owen se as aplicarmos à nossa pequena-grande realidade política local?
Abstraindo-nos do contexto eleitoral francês, que lição podemos retirar das palavras de Owen se as aplicarmos à nossa pequena-grande realidade política local?
Pra mim, desde logo, uma: a nossa democracia autárquica passa actualmente por uma fase equilibrada.
Se bem percebo do que diz Owen, não há democracia sem haver Poder e Oposição com discursos claramente definidos e moderadamente opostos. E nesse aspecto, Lagos é - e continuará, pelo menos até às eleições de 2009 - a ser um bom exemplo disso.
É claro que muitos não compreendem qual é o papel de quem está na Oposição. Ou não querem, simplesmente, compreender quando pretendem reduzir o difícil (e por demais dificultado) trabalho da actual Oposição a mero bota-abaixo. Mesmo que o não seja, como é o caso.
Mas esses são os que querem que haja Governo sem Oposição.
São os que querem o Governo absoluto, para não chamar outra coisa.
Que é o mesmo que dizer que não querem equilíbrio democrático. Que não querem, no fundo, a democracia a funcionar.
Ao que parece, Bayrou, o candidato da UDF, usou e abusou do único e cínico discurso que o podia diferenciar dos outros. A ideia de "união" entre os ideiais de direita e de esquerda, tão do agrado de alguns terceiras-vias.
Bayrou perdeu ao não conseguir passar à segunda volta e, com isso, a democracia ganhou.
"Ele era o mais perigoso dos candidatos, porque colocava em questão o futuro da democracia, ao acabar com uma grande força na oposição e criar uma estrutura de acolhimento para partidos extremistas", diz Owen.
São os perigos deste tipo de políticos e de discursos.
É claro que as autárquicas de Lagos nunca serão as presidenciais francesas. Mas o que interessa é realizar que sem personalidades distintas e diferentes modos de estar e de ser na política, a democracia perde. Perderá sempre.
É claro que as autárquicas de Lagos nunca serão as presidenciais francesas. Mas o que interessa é realizar que sem personalidades distintas e diferentes modos de estar e de ser na política, a democracia perde. Perderá sempre.
Ele, Júlio Barroso, e eu, somos bem distintos um do outro. E isso é óptimo para a democracia.
Pelo menos, para a nossa democracia autárquica.
2 Comentários:
Boa Nuno
Poderia até fazer um comentário, não fosse eu ter a certeza absoluta que este ensaio é só uma peça de literatura politica completamente desajustada das necessidades que a oposição tem. A analise que eu faço da situação é que a oposição preceisa de ser forte, mas assim ela NUNCA crescerá. Lamentavelmente o PSD isola numa entidade a acção politica fazendo com que essa entidade se gaste. Darei a mão à palmatória, mas por este andar penso que as manterei intocaveis.
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