
Talvez fosse aceitável que Júlio Barroso criasse empresas municipais para áreas de gestão camarária deficitárias em termos de pessoal, estratégicas e absolutamente prioritárias para o desenvolvimento do município.
Eu próprio e muitos outros, certamente, teríamos compreendido isso.
Se é importante ganhar tempo de atraso em determinada área, contratar pessoas que o quadro da Câmara não dispõe, reforçar a capacidade de resposta e o padrão do serviço, então pode ser admissível e muito importante criar uma empresa municipal.
Pode ser.
Mas depois do quadro de pessoal da Câmara ter "engordado" significativamente e dos técnicos que o integraram, a partir de 2001, não aceitarem ser transferidos para a empresa municipal do desporto, recentemente criada, continuo a dizer que a decisão resulta em redundância. E a redundância paga-se e caro.
E normalmente quem paga são as pessoas, do seu próprio bolso.
São as pessoas que pagam, do seu próprio bolso as más decisões dos políticos.
Sempre foi e sempre será assim.
Competência exige-se, portanto. Pra que não se cometam erros que custam muito caro.
O que agora acontece com o novo edifício da Câmara Municipal de Lagos é bem a prova disso.
Em 2001, Júlio Barroso hesitou muito durante os primeiros seis meses da sua governação autárquica.
Não gostava do projecto nem da localização escolhida depois de anos de debate público sobre a mesma, achou que o pavilhão e as piscinas eram prioritários e optou. Do meu ponto de vista, mal. Mas optou.
Na altura, a obra poderia ter custado, no máximo, cerca de 10 milhões de euros.
Na altura, se Júlio Barroso tivesse querido, a Câmara poderia ter tido acesso ao crédito bancário (o congelamento do crédito bancário aos municípios não vigorou nos primeiros seis meses do seu mandato autárquico e a Câmara tinha a sua capacidade de endividamento intacta).
Na altura, poderia ter dado celeridade à operação de loteamento da Fábrica da Cortiça e resolvido de vez a questão das péssimas condições de trabalho dos funcionários municipais.
Tudo isto era possível nessa altura, fosse Júlio Barroso conhecedor dos dossiês.
Mas Júlio Barroso não era e o PS não gostava da localização do edifício (nunca gostaram) e queriam mudá-lo para o campo de futebol do Esperança de Lagos e integrá-lo no âmbito de uma operação imobiliária cujo estudo encomendado à "ParquExpo" há-de vir a público muito em breve.
Por isso, fundamentalmente, optaram como optaram.
E agora?
Agora fez-se uma empresa municipal, um contrato tipo SCUT, com o privado que inicialmente cedeu o terreno à Câmara (!), para a construção da obra, gestão e manutenção do edifício pelo preço de 160 mil euros por mês - números redondos - e pelo período de 20 anos.
Agora, só a construção do edifício está avaliada em mais de 16 milhões de euros. Vamos ver o preço final...
Agora, pensará Júlio Barroso, "os que vierem atrás que fechem a porta". Que é o mesmo que dizer: - Os que vierem a seguir que arranjem forma de pagar a factura!
No fim de contas, o que é que se ganhou com a hesitação se o projecto e o local são os mesmos!?
São as pessoas que pagam, do seu próprio bolso pelas más decisões dos políticos.
Sempre foi e sempre será assim.
Ou não?