"Os lacobrigenses merecem bem melhor do que aquilo que lhes tem sido dado pelo PS nos últimos 6 anos.”
Entrevista de Nuno Marques ao jornal "Notícias de Lagos", edição de Dezembro de 2007, conduzida por Hélio José.
Por mera coincidência e, depois de largo tempo sem conversarmos, como era hábito antigo, encontrei o Nuno Marques no café. Com alguma disponibilidade de tempo actualizámos conversas sobre as nossas vidas e vivências e “fatalmente” enveredámos pelas políticas locais, tema inesgotável e sempre em agenda. Acabada a conversa, e porque percebi que havia matéria para chegar ao conhecimento público, sugeri ao meu interlocutor se podia dar estampa, no NL, àquilo que eu entendo como meia-conversa, meia-entrevista. E, ali mesmo, pegámos no fio condutor, reproduzimos e alinhámos os temas em quinze folhas de bloco de notas, verdadeiramente à moda antiga, ou não fossem os meus já longos 42 anos ligados às lides da escrita.
Qual é, neste momento, a situação política do PSD/Lagos, considerando o anúncio da sua candidatura, em Março deste ano, na perspectiva do acto eleitoral interno que se avizinha e no qual poderão aparecer mais concorrentes?
Tenho um projecto para quatro anos. Disse-o há dois anos atrás quando os militantes me elegeram para presidente do partido e mantenho. Percorremos metade do trajecto, agora vamos entrar na segunda parte, a decisiva para as próximas eleições autárquicas. Das eleições internas não sairá apenas o presidente dos sociais-democratas de Lagos. É minha convicção, e de todos os que me acompanham, que sairá também aquele que será o próximo presidente da Câmara. Recandidato-me, portanto, como é minha obrigação e dado o projecto que tenho. Quanto ao aparecimento de outras candidaturas, o que posso dizer é que, se há sociais-democratas que têm maneiras de ver diferentes da nossa, não percam as eleições por falta de comparência. Essa é a obrigação de quem sentir que o nosso projecto não serve os interesses de Lagos e de quem se sentir em melhores condições do que eu para vir a ser o próximo presidente da Câmara.
Na verdade, os cidadãos interessados na política local sabem que o ‘aparelho partidário’ do PSD, tanto a nível nacional como local, não se encontra na melhor posição para desafiar um PS que fidelizou eleitorado. Inquestionavelmente, os cidadãos lacobrigenses também já deram conta que a concelhia do PSD não contém a união e uma maioria confiante no seu actual projecto político para Lagos. Tem consciência disso?
Não é verdade. No seio do partido há a consciência das razões porque fomos penalizados nos últimos dois actos eleitorais locais. Inevitavelmente, na política como na vida, as páginas têm de se virar para evoluirmos e seguirmos em frente. Perceber as razões foi fundamental para criarmos condições para responder às questões da actualidade e aos novos desafios com que todos nós nos confrontamos. As coisas têm mudado muito nos últimos anos. Estamos num mundo diferente, também ele novo e globalizado e, ao mesmo tempo, demasiado exigente. É claro que, para tudo isto, há que encontrar respostas novas e, necessariamente, que dar voz a novos actores. Foi o que fizemos, com a convicção de que esse era o caminho correcto que o partido tinha de tomar. Tudo isto, claro, em função de valores importantes que defendemos a pensar na vida e no bem-estar dos nossos concidadãos lacobrigenses que merecem bem melhor do que aquilo que lhes tem sido dado pelo PS nos últimos seis anos.
É, mais ou menos, voz corrente, nalguns sectores da nossa cidade, que José Valentim ainda se considera um potencial candidato às próximas eleições. Vê nisso um obstáculo ou, até mesmo, uma ameaça à sua recandidatura interna e à sua candidatura a presidente da Câmara?
Não. Não vejo em José Valentim um crítico nem um opositor assumido do nosso trabalho. Nunca li nem ouvi dele nada que me faça pensar o contrário. Não obstante, a ele ou a qualquer outro militante que, eventualmente, discorde de nós e do nosso projecto, assiste-lhes o direito democrático e a obrigação de darem a cara por aquilo em que acreditam. Ou, então, de procurarem dialogar e entenderem-se connosco. Mas, se é verdade que há tantos descontentes e tantas divisões internas como certa comunicação social local tem insinuado, calculo que, desta vez, aparecerão outras candidaturas alternativas. Porém, há que não esquecer que são os militantes quem, melhor do que ninguém, saberá decidir o que é melhor para o futuro do partido. Aliás, foi sempre esse o seu apanágio.
Até ao momento as suas respostas à volta do processo eleitoral do seu partido não foram respondidas com a objectividade que as minhas perguntas pediam. Afinal, Nuno Marques tem base de apoio que sustente a sua recandidatura ao partido e à Câmara Municipal, ou não?
São coisas diferentes. Da parte dos militantes, o apoio tem sido inequívoco, expressivo e sincero. Veja-se, por exemplo, os resultados locais das eleições directas que levaram Filipe Menezes a presidente do partido e em que, mais uma vez, os militantes identificaram-se com as nossas opções. Respondo, por isso, claramente que sim. Quanto à sustentação da minha candidatura à Câmara devo dizer que, da mesma forma que virámos uma página da nossa história partidária local de 30 anos, há uma certa comunicação social que passa a vida a insinuar a minha arrogância e autocracia, a minha distância do eleitorado e outras coisas piores, sem se dar conta de quão desfasada está da realidade, das pessoas e do concelho. Não ignoro que tal estilo de fazer jornalismo pode influenciar a maneira de pensar de alguns, menos informados ou pouco participantes na vida da nossa comunidade. Porém, as pessoas conhecem bem quem escreve, e porque escreve, o jornal que mensalmente transporta o boletim da Câmara Municipal. É uma imprensa que há muito esqueceu a sua função de informar os cidadãos com isenção.
Percebo diversas insinuações. Importa-se de precisar, se faz favor?
Ainda não tinha concluído. O que pretendo, para não fugir à sua questão, é dizer que entre o que essa imprensa escreve e aquilo que é a aceitação social do que fazemos, da forma como estamos na vida e na oposição, vai uma distância abissal. As pessoas sabem que é do orçamento municipal que saem os dinheiros públicos para pagar o encarte do boletim municipal num jornal que, coincidência das coincidências, faz quase sempre ‘vista grossa’ a tudo o que são críticas ao Poder e só se lembra da Oposição quando é para dizer mal dela. Coincidências? Não somos ingénuos a esse ponto. A forma de ultrapassar isso é darmo-nos a conhecer, a nós e às nossas opiniões, irmos ao encontro das pessoas, falarmos com elas. É o que temos feito. E a percepção que tenho é que somos nós que temos vindo a crescer e a cativar o interesse das populações nas nossas ideias e modos de estar. Por isso, estou muito optimista.
Parece-me que está extremamente magoado com a comunicação social, uma vez que esta lhe traça um perfil antagónico à sua maneira de estar na política. Parece-me também que acredita que as populações saberão descodificar essas mensagens negativas. É assim?
Magoado, não. Mas, muito atento, sim. E crente nas populações e na sua inteligência. É isso que me tem dado o alento necessário para continuar a afirmar as nossas ideias e a travar um combate político deveras aliciante embora desigual. Jamais compactuarei com práticas que vão contra os mais elementares princípios éticos e democráticos. Este ano comemora-se o ano internacional da igualdade de oportunidades e é imperioso dizer que somos diferentes do PS também por isso, porque rejeitamos práticas que distorcem as regras da democracia e do ‘fair-play’ político as quais prejudicam a igualdade de oportunidades.
Estas suas afirmações não são tão límpidas como poderá pensar. A propósito da imprensa, deduzo das suas palavras que há também uma crítica ao poder político vigente?
E deduz muito bem. Porque encartar um boletim municipal que é mera propaganda – e que até já serviu, imagine-se, para o presidente da Câmara tratar de assuntos seus e da Misericórdia – num jornal local que faz campanha sistemática contra mim e contra os sociais-democratas de Lagos é uma situação de evidente promiscuidade mas, sobretudo, é uma parte importante da estratégia de poder do PS que, obviamente, não toleramos.
Isso é parte de algumas das suas preocupações, mas para um candidato à Câmara Municipal, como é o seu caso, naturalmente que outras preocupações, repito, preocupações, de natureza mais abrangente e que incidem sobre os legítimos e prioritários interesses das populações, empresários, jovens, famílias, e que têm sido motivo de intervenções da sua parte, contra as decisões assumidas pelo actual presidente da Câmara. Como é?
Há uma preocupação da minha parte que é comum a todas as posições que tenho tomado, sem receios, ao longo de seis anos enquanto líder da Oposição e que é o facto deste presidente, de forma não inocente, governar por causa dos votos e não das pessoas. O pior é que, com essa política, acentuam-se os níveis de pobreza e não os níveis de prosperidade do concelho e das suas gentes.
Para entendimento dos leitores, e para que as nossas populações tenham conhecimento disso, pode justificar as suas preocupações?
Um concelho onde as desigualdade de oportunidades têm-se acentuado, em que o PS impõe-nos, sem entraves, a dependência da Câmara Municipal para quase tudo e para quase todos, em que se pratica uma política fiscal e tarifária absurda (p. ex. a factura da água, vai aumentar, outra vez, e para valores acima da inflação), em que se obriga as pequenas empresas locais ao pagamento de derramas que deviam ser excepção e não a regra (a actual Câmara, em 4 anos, foi ao bolso das empresas locais buscar 2,5 milhões de euros), em que o PS é incapaz de disciplinar a utilização do território (o caso do PDM que há seis anos nos prometem é paradigmático)…
Mas, apesar da aplicação dessas derramas, a verdade é que os pobres, os cidadãos mais penalizados pelo governo PS, acabam por dizer que “quem é rico é que tem de pagar a crise!”…
… peço desculpa mas a verdade, nua e crua, é que as pessoas sabem que são elas e não os mais ricos que estão a pagar a crise. E também é errado dizer-se que são as empresas mais prósperas que pagam a crise, porque dessas, são poucas as que pagam o seu IRC neste concelho. Portanto, quem paga a crise é a classe média, o pequeno comerciante e o pequeno e médio empreendedor local, aos quais se deve a maior fatia da geração de riqueza em Lagos. Mas, retomando a resposta à pergunta anterior, devo acrescentar que um concelho governado por quem não se importa nada com esses aspectos, que insiste em penalizar-nos com impostos, taxas, tarifas e derramas elevadas, em que mais nada lhes importa que não a sua estratégia de poder, é claro que é um concelho tendencialmente mais pobre e economicamente atrofiado.
Fala-se, também, que o imposto municipal de imóveis é motivo de sérias críticas pelo seu desajustamento face à receita arrecadada por outros municípios. Queixam-se, é verdade! Mas o que é facto é que, a qualquer foguetório nocturno, o povo acorre. Será que as pessoas estarão completamente alheias às grandes realidades do nosso concelho, no próprio interesse das suas vidas, só porque um foguetório, mais um desfile monumental, grandes atracções no parque de estacionamento ou das Freiras, será suficiente para se dizer: “Que belo presidente!”
Como eu sou daqueles que sempre pensou que o povo não é tolo e que a verdade acaba sempre por vir ao de cima, entendo que a sua inteligência nunca deve ser desprezada e que, no momento próprio, os cidadãos desta terra saberão responder aos atestados de ignorância que o poder insiste em lhes querer passar. Perante a fartura de festas e foguetes, o povo acaba por ir sabendo que é ele que, com o seu dinheiro, acaba por pagar as favas. E isso significa que o seu voto não se vende a troco de pirotecnias.
Já vamos adiantados nesta nossa conversa mas não resisto a abordar um tema, aliás um assunto muito debatido na nossa cidade, que é o plano da Meia-Praia. Até porque, numa entrevista dada recentemente a outro jornal, um administrador de uma empresa da zona fez-me entender qual o futuro daquilo que já deixou de ser nosso. Fiquei siderado. Como autarca interventor nesta área, o que é que pode esclarecer ou fazer melhorar o meu pensamento sobre aquilo que acabei de referir.
Sei do que fala e as pessoas de Lagos conhecem qual é a nossa posição acerca da Meia-Praia. Não é um problema fácil de resolver, admito. Mas por isso é que o PS devia ter sido mais conciliador ao invés de querer impor o plano da Meia-Praia aos cidadãos e à Oposição, como o fez. Andar a dizer, durante anos, que os custos e os proveitos que iam decorrer do plano seriam iguais para todos em função dos terrenos que tivessem e agora, chegarmos à triste conclusão que isso não era verdade; andar a fazer demagogia, a dizer que eram os particulares que pagariam todas as infraestruturas e agora ver que a Câmara vai despender 13 milhões de euros para esse efeito, não é fazer batota política? E, se a tudo isso, juntarmos esse tal sentimento de perda “daquilo que é nosso”, será que não começa a ser um preço demasiado alto que temos de pagar para outros gozarem?
Para um candidato à Câmara, depois deste retrato de uma gestão vigente pouco cautelosa, pelo menos para mim, e conhecedor que deve ser da famosa máquina de propaganda político-partidária do PS, jamais vista em Lagos em 30 anos de Democracia local, sente que tem força para alterar os rumos da nossa política e, sobretudo, limpar os fantasmas que pululam no pensamento de parte significante do eleitorado?
Sejamos claros. Não é pela qualidade do trabalho nem pela quantidade da obra feita pela Câmara –alguma dela de fachada, outra certamente importante–, que poderemos perder. Todos sabem que estas obras só foram possíveis graças a anteriores executivos que não endividaram a autarquia e envolveram a maioria dos seus recursos financeiros em infraestruturas e primeiras necessidades da comunidade, ao contrário do que aconteceu com a maioria dos concelhos da região. As dificuldades para ganharmos as próximas eleições residem na ganância do PS em ‘colonizar’ a Câmara e outras instituições (Misericórdia, agora também os Bombeiros) de tal modo que, para alguns, ganharmos as próximas eleições significará perderem o cargo de adjunto, assessor, administrador(a), etc, perderem o nível remuneratório e o estatuto que conseguiram só por serem da ‘família’ PS ou por terem dado a cara num vídeo de campanha do PS. O caso da acumulação de cargos do presidente de junta, com deputado municipal, comandante dos bombeiros e assessor-responsável pela protecção civil é o cúmulo. Mas não vamos baixar os braços perante essas adversidades como alguns vaticinavam. Antes pelo contrário, estamos convictos que as populações vão perceber que a Câmara tem de mudar de vida e vão-nos dar a sua confiança.
O que é preciso fazer e convencer para o PSD ganhar a Câmara Municipal?
Desde logo, é preciso dizer e provar às pessoas que temos uma atitude diferente e outra forma de encarar o exercício do Poder, de uma maior seriedade, transparência e rigor na gestão dos recursos públicos, bem como, de outro entendimento do que é serviço público. Dizer-lhes que instituiremos uma nova cultura administrativa sem a qual não será possível modernizar o concelho. Defendemos o horário contínuo dos serviços, aliado a menos burocracia, maior eficiência e mais atendimento personalizado. Dizer-lhes que, connosco, pagarão menos impostos municipais porque saberemos utilizar o seu dinheiro de forma mais eficaz. Garanto que ‘festivais Cineport’, derrapagens de centenas de milhares de euros em obras públicas ou feiras ‘Arte Doce’ com aparthotéis e ‘resorts’ à mistura, não cabem na nossa concepção de gestão. A isto acrescento uma nova dimensão social na acção política. Neste domínio é essencial não confundir política social com caridade e potenciar o saber acumulado das instituições locais. Nem confundir uma campanha simbólica de recolha de vestuário com a política social que proporemos aos lacobrigenses. Fique claro que, connosco, não haverá duplicação de funções nem a Câmara fará concorrência directa às IPSS, como actualmente acontece. Neste campo, garanto uma verdadeira revolução na Rede Social que, no tempo certo, direi em que consiste, adiantando já que é uma ‘rede social’ que queremos e não um conjunto de entidades a competirem entre si e a desbaratarem recursos.
Diz que tem ideias, no âmbito social e municipal mas parece-me que toda a vida e pujança do concelho dependem muito de um sector importante da nossa sociedade que são os empresários e os empreendedores. Que ideias tem para o sector?
Uma coisa, para mim, será ponto de honra. Comigo não haverá ‘filhos e enteados’. Mas, ainda mais importante, a Câmara, no seu todo, tem de passar a olhar para as empresas, no seu conjunto, como tendo elas que ser o grande motor do desenvolvimento municipal e perder o vício pernicioso de se julgar, ela própria, esse motor. Continuar pelo actual caminho é, como já o disse, empobrecer ano após ano. Connosco, a Câmara não fará concorrência directa com nenhuma empresa. Antes, terá um papel complementar e de regulação nas áreas que o mercado não resolve. Com a nossa gestão haverá um olhar mais abrangente para a globalidade do sector empresarial e comercial e não apenas para as empresas do imobiliário. Ao nível fiscal, excusado será dizer que as derramas sistemáticas serão abolidas. E em termos de estratégia de longo prazo, muito tem de ser feito para mitigar a sazonalidade da economia e criar alternativas que equilibrem a nossa exagerada dependência do turismo e da imobiliária. A prazo, o actual modelo não é sustentável. E aqui a política municipal de desenvolvimento tem de perspectivar algo de muito substancial para o nosso futuro. E nós sabemos o que queremos a esse nível. Os sectores das energias renováveis e da economia social, entre outros, abrem boas perspectivas para a atenuação da sazonalidade.
Sei que há muito para acrescentar sobre os temas fundamentais do nosso município e esta entrevista, que nasceu apenas como uma conversa de actualização das políticas locais, acabou por transferir-nos para as colunas deste jornal apenas ‘meia-dúzia’ de questões. Fica para uma outra oportunidade mais próxima das eleições autárquicas. Fiquemo-nos, então, por aqui. Tenha um bom Natal!
Toquei apenas nalguns pontos porque entendo não ter chegado ainda o momento para anunciar, de facto, todas as propostas que temos para oferecer aos cidadãos deste concelho, bem como, acentuar críticas mais profundas, esclarecer claramente os eleitores acerca da gestão do actual governo local de que, os nossos cidadãos, não têm ainda a melhor informação, não conhecem outros problemas que dizem respeito a todos e que o Executivo tem escamoteado à nossa sociedade. Por ora ficam os votos sinceros de feliz Natal e melhor 2008 para todos, com paz, saúde e, sobretudo, com esperança. Contem connosco.
Qual é, neste momento, a situação política do PSD/Lagos, considerando o anúncio da sua candidatura, em Março deste ano, na perspectiva do acto eleitoral interno que se avizinha e no qual poderão aparecer mais concorrentes?
Tenho um projecto para quatro anos. Disse-o há dois anos atrás quando os militantes me elegeram para presidente do partido e mantenho. Percorremos metade do trajecto, agora vamos entrar na segunda parte, a decisiva para as próximas eleições autárquicas. Das eleições internas não sairá apenas o presidente dos sociais-democratas de Lagos. É minha convicção, e de todos os que me acompanham, que sairá também aquele que será o próximo presidente da Câmara. Recandidato-me, portanto, como é minha obrigação e dado o projecto que tenho. Quanto ao aparecimento de outras candidaturas, o que posso dizer é que, se há sociais-democratas que têm maneiras de ver diferentes da nossa, não percam as eleições por falta de comparência. Essa é a obrigação de quem sentir que o nosso projecto não serve os interesses de Lagos e de quem se sentir em melhores condições do que eu para vir a ser o próximo presidente da Câmara.
Na verdade, os cidadãos interessados na política local sabem que o ‘aparelho partidário’ do PSD, tanto a nível nacional como local, não se encontra na melhor posição para desafiar um PS que fidelizou eleitorado. Inquestionavelmente, os cidadãos lacobrigenses também já deram conta que a concelhia do PSD não contém a união e uma maioria confiante no seu actual projecto político para Lagos. Tem consciência disso?
Não é verdade. No seio do partido há a consciência das razões porque fomos penalizados nos últimos dois actos eleitorais locais. Inevitavelmente, na política como na vida, as páginas têm de se virar para evoluirmos e seguirmos em frente. Perceber as razões foi fundamental para criarmos condições para responder às questões da actualidade e aos novos desafios com que todos nós nos confrontamos. As coisas têm mudado muito nos últimos anos. Estamos num mundo diferente, também ele novo e globalizado e, ao mesmo tempo, demasiado exigente. É claro que, para tudo isto, há que encontrar respostas novas e, necessariamente, que dar voz a novos actores. Foi o que fizemos, com a convicção de que esse era o caminho correcto que o partido tinha de tomar. Tudo isto, claro, em função de valores importantes que defendemos a pensar na vida e no bem-estar dos nossos concidadãos lacobrigenses que merecem bem melhor do que aquilo que lhes tem sido dado pelo PS nos últimos seis anos.
É, mais ou menos, voz corrente, nalguns sectores da nossa cidade, que José Valentim ainda se considera um potencial candidato às próximas eleições. Vê nisso um obstáculo ou, até mesmo, uma ameaça à sua recandidatura interna e à sua candidatura a presidente da Câmara?
Não. Não vejo em José Valentim um crítico nem um opositor assumido do nosso trabalho. Nunca li nem ouvi dele nada que me faça pensar o contrário. Não obstante, a ele ou a qualquer outro militante que, eventualmente, discorde de nós e do nosso projecto, assiste-lhes o direito democrático e a obrigação de darem a cara por aquilo em que acreditam. Ou, então, de procurarem dialogar e entenderem-se connosco. Mas, se é verdade que há tantos descontentes e tantas divisões internas como certa comunicação social local tem insinuado, calculo que, desta vez, aparecerão outras candidaturas alternativas. Porém, há que não esquecer que são os militantes quem, melhor do que ninguém, saberá decidir o que é melhor para o futuro do partido. Aliás, foi sempre esse o seu apanágio.
Até ao momento as suas respostas à volta do processo eleitoral do seu partido não foram respondidas com a objectividade que as minhas perguntas pediam. Afinal, Nuno Marques tem base de apoio que sustente a sua recandidatura ao partido e à Câmara Municipal, ou não?
São coisas diferentes. Da parte dos militantes, o apoio tem sido inequívoco, expressivo e sincero. Veja-se, por exemplo, os resultados locais das eleições directas que levaram Filipe Menezes a presidente do partido e em que, mais uma vez, os militantes identificaram-se com as nossas opções. Respondo, por isso, claramente que sim. Quanto à sustentação da minha candidatura à Câmara devo dizer que, da mesma forma que virámos uma página da nossa história partidária local de 30 anos, há uma certa comunicação social que passa a vida a insinuar a minha arrogância e autocracia, a minha distância do eleitorado e outras coisas piores, sem se dar conta de quão desfasada está da realidade, das pessoas e do concelho. Não ignoro que tal estilo de fazer jornalismo pode influenciar a maneira de pensar de alguns, menos informados ou pouco participantes na vida da nossa comunidade. Porém, as pessoas conhecem bem quem escreve, e porque escreve, o jornal que mensalmente transporta o boletim da Câmara Municipal. É uma imprensa que há muito esqueceu a sua função de informar os cidadãos com isenção.
Percebo diversas insinuações. Importa-se de precisar, se faz favor?
Ainda não tinha concluído. O que pretendo, para não fugir à sua questão, é dizer que entre o que essa imprensa escreve e aquilo que é a aceitação social do que fazemos, da forma como estamos na vida e na oposição, vai uma distância abissal. As pessoas sabem que é do orçamento municipal que saem os dinheiros públicos para pagar o encarte do boletim municipal num jornal que, coincidência das coincidências, faz quase sempre ‘vista grossa’ a tudo o que são críticas ao Poder e só se lembra da Oposição quando é para dizer mal dela. Coincidências? Não somos ingénuos a esse ponto. A forma de ultrapassar isso é darmo-nos a conhecer, a nós e às nossas opiniões, irmos ao encontro das pessoas, falarmos com elas. É o que temos feito. E a percepção que tenho é que somos nós que temos vindo a crescer e a cativar o interesse das populações nas nossas ideias e modos de estar. Por isso, estou muito optimista.
Parece-me que está extremamente magoado com a comunicação social, uma vez que esta lhe traça um perfil antagónico à sua maneira de estar na política. Parece-me também que acredita que as populações saberão descodificar essas mensagens negativas. É assim?
Magoado, não. Mas, muito atento, sim. E crente nas populações e na sua inteligência. É isso que me tem dado o alento necessário para continuar a afirmar as nossas ideias e a travar um combate político deveras aliciante embora desigual. Jamais compactuarei com práticas que vão contra os mais elementares princípios éticos e democráticos. Este ano comemora-se o ano internacional da igualdade de oportunidades e é imperioso dizer que somos diferentes do PS também por isso, porque rejeitamos práticas que distorcem as regras da democracia e do ‘fair-play’ político as quais prejudicam a igualdade de oportunidades.
Estas suas afirmações não são tão límpidas como poderá pensar. A propósito da imprensa, deduzo das suas palavras que há também uma crítica ao poder político vigente?
E deduz muito bem. Porque encartar um boletim municipal que é mera propaganda – e que até já serviu, imagine-se, para o presidente da Câmara tratar de assuntos seus e da Misericórdia – num jornal local que faz campanha sistemática contra mim e contra os sociais-democratas de Lagos é uma situação de evidente promiscuidade mas, sobretudo, é uma parte importante da estratégia de poder do PS que, obviamente, não toleramos.
Isso é parte de algumas das suas preocupações, mas para um candidato à Câmara Municipal, como é o seu caso, naturalmente que outras preocupações, repito, preocupações, de natureza mais abrangente e que incidem sobre os legítimos e prioritários interesses das populações, empresários, jovens, famílias, e que têm sido motivo de intervenções da sua parte, contra as decisões assumidas pelo actual presidente da Câmara. Como é?
Há uma preocupação da minha parte que é comum a todas as posições que tenho tomado, sem receios, ao longo de seis anos enquanto líder da Oposição e que é o facto deste presidente, de forma não inocente, governar por causa dos votos e não das pessoas. O pior é que, com essa política, acentuam-se os níveis de pobreza e não os níveis de prosperidade do concelho e das suas gentes.
Para entendimento dos leitores, e para que as nossas populações tenham conhecimento disso, pode justificar as suas preocupações?
Um concelho onde as desigualdade de oportunidades têm-se acentuado, em que o PS impõe-nos, sem entraves, a dependência da Câmara Municipal para quase tudo e para quase todos, em que se pratica uma política fiscal e tarifária absurda (p. ex. a factura da água, vai aumentar, outra vez, e para valores acima da inflação), em que se obriga as pequenas empresas locais ao pagamento de derramas que deviam ser excepção e não a regra (a actual Câmara, em 4 anos, foi ao bolso das empresas locais buscar 2,5 milhões de euros), em que o PS é incapaz de disciplinar a utilização do território (o caso do PDM que há seis anos nos prometem é paradigmático)…
Mas, apesar da aplicação dessas derramas, a verdade é que os pobres, os cidadãos mais penalizados pelo governo PS, acabam por dizer que “quem é rico é que tem de pagar a crise!”…
… peço desculpa mas a verdade, nua e crua, é que as pessoas sabem que são elas e não os mais ricos que estão a pagar a crise. E também é errado dizer-se que são as empresas mais prósperas que pagam a crise, porque dessas, são poucas as que pagam o seu IRC neste concelho. Portanto, quem paga a crise é a classe média, o pequeno comerciante e o pequeno e médio empreendedor local, aos quais se deve a maior fatia da geração de riqueza em Lagos. Mas, retomando a resposta à pergunta anterior, devo acrescentar que um concelho governado por quem não se importa nada com esses aspectos, que insiste em penalizar-nos com impostos, taxas, tarifas e derramas elevadas, em que mais nada lhes importa que não a sua estratégia de poder, é claro que é um concelho tendencialmente mais pobre e economicamente atrofiado.
Fala-se, também, que o imposto municipal de imóveis é motivo de sérias críticas pelo seu desajustamento face à receita arrecadada por outros municípios. Queixam-se, é verdade! Mas o que é facto é que, a qualquer foguetório nocturno, o povo acorre. Será que as pessoas estarão completamente alheias às grandes realidades do nosso concelho, no próprio interesse das suas vidas, só porque um foguetório, mais um desfile monumental, grandes atracções no parque de estacionamento ou das Freiras, será suficiente para se dizer: “Que belo presidente!”
Como eu sou daqueles que sempre pensou que o povo não é tolo e que a verdade acaba sempre por vir ao de cima, entendo que a sua inteligência nunca deve ser desprezada e que, no momento próprio, os cidadãos desta terra saberão responder aos atestados de ignorância que o poder insiste em lhes querer passar. Perante a fartura de festas e foguetes, o povo acaba por ir sabendo que é ele que, com o seu dinheiro, acaba por pagar as favas. E isso significa que o seu voto não se vende a troco de pirotecnias.
Já vamos adiantados nesta nossa conversa mas não resisto a abordar um tema, aliás um assunto muito debatido na nossa cidade, que é o plano da Meia-Praia. Até porque, numa entrevista dada recentemente a outro jornal, um administrador de uma empresa da zona fez-me entender qual o futuro daquilo que já deixou de ser nosso. Fiquei siderado. Como autarca interventor nesta área, o que é que pode esclarecer ou fazer melhorar o meu pensamento sobre aquilo que acabei de referir.
Sei do que fala e as pessoas de Lagos conhecem qual é a nossa posição acerca da Meia-Praia. Não é um problema fácil de resolver, admito. Mas por isso é que o PS devia ter sido mais conciliador ao invés de querer impor o plano da Meia-Praia aos cidadãos e à Oposição, como o fez. Andar a dizer, durante anos, que os custos e os proveitos que iam decorrer do plano seriam iguais para todos em função dos terrenos que tivessem e agora, chegarmos à triste conclusão que isso não era verdade; andar a fazer demagogia, a dizer que eram os particulares que pagariam todas as infraestruturas e agora ver que a Câmara vai despender 13 milhões de euros para esse efeito, não é fazer batota política? E, se a tudo isso, juntarmos esse tal sentimento de perda “daquilo que é nosso”, será que não começa a ser um preço demasiado alto que temos de pagar para outros gozarem?
Para um candidato à Câmara, depois deste retrato de uma gestão vigente pouco cautelosa, pelo menos para mim, e conhecedor que deve ser da famosa máquina de propaganda político-partidária do PS, jamais vista em Lagos em 30 anos de Democracia local, sente que tem força para alterar os rumos da nossa política e, sobretudo, limpar os fantasmas que pululam no pensamento de parte significante do eleitorado?
Sejamos claros. Não é pela qualidade do trabalho nem pela quantidade da obra feita pela Câmara –alguma dela de fachada, outra certamente importante–, que poderemos perder. Todos sabem que estas obras só foram possíveis graças a anteriores executivos que não endividaram a autarquia e envolveram a maioria dos seus recursos financeiros em infraestruturas e primeiras necessidades da comunidade, ao contrário do que aconteceu com a maioria dos concelhos da região. As dificuldades para ganharmos as próximas eleições residem na ganância do PS em ‘colonizar’ a Câmara e outras instituições (Misericórdia, agora também os Bombeiros) de tal modo que, para alguns, ganharmos as próximas eleições significará perderem o cargo de adjunto, assessor, administrador(a), etc, perderem o nível remuneratório e o estatuto que conseguiram só por serem da ‘família’ PS ou por terem dado a cara num vídeo de campanha do PS. O caso da acumulação de cargos do presidente de junta, com deputado municipal, comandante dos bombeiros e assessor-responsável pela protecção civil é o cúmulo. Mas não vamos baixar os braços perante essas adversidades como alguns vaticinavam. Antes pelo contrário, estamos convictos que as populações vão perceber que a Câmara tem de mudar de vida e vão-nos dar a sua confiança.
O que é preciso fazer e convencer para o PSD ganhar a Câmara Municipal?
Desde logo, é preciso dizer e provar às pessoas que temos uma atitude diferente e outra forma de encarar o exercício do Poder, de uma maior seriedade, transparência e rigor na gestão dos recursos públicos, bem como, de outro entendimento do que é serviço público. Dizer-lhes que instituiremos uma nova cultura administrativa sem a qual não será possível modernizar o concelho. Defendemos o horário contínuo dos serviços, aliado a menos burocracia, maior eficiência e mais atendimento personalizado. Dizer-lhes que, connosco, pagarão menos impostos municipais porque saberemos utilizar o seu dinheiro de forma mais eficaz. Garanto que ‘festivais Cineport’, derrapagens de centenas de milhares de euros em obras públicas ou feiras ‘Arte Doce’ com aparthotéis e ‘resorts’ à mistura, não cabem na nossa concepção de gestão. A isto acrescento uma nova dimensão social na acção política. Neste domínio é essencial não confundir política social com caridade e potenciar o saber acumulado das instituições locais. Nem confundir uma campanha simbólica de recolha de vestuário com a política social que proporemos aos lacobrigenses. Fique claro que, connosco, não haverá duplicação de funções nem a Câmara fará concorrência directa às IPSS, como actualmente acontece. Neste campo, garanto uma verdadeira revolução na Rede Social que, no tempo certo, direi em que consiste, adiantando já que é uma ‘rede social’ que queremos e não um conjunto de entidades a competirem entre si e a desbaratarem recursos.
Diz que tem ideias, no âmbito social e municipal mas parece-me que toda a vida e pujança do concelho dependem muito de um sector importante da nossa sociedade que são os empresários e os empreendedores. Que ideias tem para o sector?
Uma coisa, para mim, será ponto de honra. Comigo não haverá ‘filhos e enteados’. Mas, ainda mais importante, a Câmara, no seu todo, tem de passar a olhar para as empresas, no seu conjunto, como tendo elas que ser o grande motor do desenvolvimento municipal e perder o vício pernicioso de se julgar, ela própria, esse motor. Continuar pelo actual caminho é, como já o disse, empobrecer ano após ano. Connosco, a Câmara não fará concorrência directa com nenhuma empresa. Antes, terá um papel complementar e de regulação nas áreas que o mercado não resolve. Com a nossa gestão haverá um olhar mais abrangente para a globalidade do sector empresarial e comercial e não apenas para as empresas do imobiliário. Ao nível fiscal, excusado será dizer que as derramas sistemáticas serão abolidas. E em termos de estratégia de longo prazo, muito tem de ser feito para mitigar a sazonalidade da economia e criar alternativas que equilibrem a nossa exagerada dependência do turismo e da imobiliária. A prazo, o actual modelo não é sustentável. E aqui a política municipal de desenvolvimento tem de perspectivar algo de muito substancial para o nosso futuro. E nós sabemos o que queremos a esse nível. Os sectores das energias renováveis e da economia social, entre outros, abrem boas perspectivas para a atenuação da sazonalidade.
Sei que há muito para acrescentar sobre os temas fundamentais do nosso município e esta entrevista, que nasceu apenas como uma conversa de actualização das políticas locais, acabou por transferir-nos para as colunas deste jornal apenas ‘meia-dúzia’ de questões. Fica para uma outra oportunidade mais próxima das eleições autárquicas. Fiquemo-nos, então, por aqui. Tenha um bom Natal!
Toquei apenas nalguns pontos porque entendo não ter chegado ainda o momento para anunciar, de facto, todas as propostas que temos para oferecer aos cidadãos deste concelho, bem como, acentuar críticas mais profundas, esclarecer claramente os eleitores acerca da gestão do actual governo local de que, os nossos cidadãos, não têm ainda a melhor informação, não conhecem outros problemas que dizem respeito a todos e que o Executivo tem escamoteado à nossa sociedade. Por ora ficam os votos sinceros de feliz Natal e melhor 2008 para todos, com paz, saúde e, sobretudo, com esperança. Contem connosco.
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